20080817

Literatos no Século XX




A Morte do Caixeiro-Viajante, de Arthur Miller

melhor seria

A Memória de Um Caixeiro-Viajante, pois...




Quase todos podem jogar bola; porém, não-quase todos terão a oportunidade em ser discípulo de Garrincha. Pelé aprendeu ao lado de seu colega (Garrincha) na Seleção Brasileira de Futebol. Em outro aspecto, muitos desenham; aliás, desde o jardim de infância iniciam-se os rabiscos. Todavia, só há um Velásquez, um Goya, um Gauguin. Ainda sobre este prisma, escrever, para quem é alfabetizado, não existem grandes mistérios; entretanto, difícil é em um mesmo século (foi o caso do XX) terem existido tantos poetas (João Cabral de Melo Neto, Carlos Drummond de Andrade etc.) e escritores (João Guimarães Rosa, Graciliano Ramos etc.) de indiscutível vocação literária.

Não são poucos os westerns, além dos spaghetti-italianos, diga-se, este engordou após a crise em Hollywood com fitas de bang-bangs; contudo, de duas ou três centenas, destacaram-se Sérgio, na década de 1960, e a música experimental do maestro Enio Morriconne no cinema de histórias de pistoleiros (filmadas na Espanha, Europa, em vez de Monument Valley-EUA, como os de John Ford). Mas é o diretor Sérgio Leone (com um dos melhores exemplos: “Era uma vez no Oeste”) e Enio – criador intelectual de trilhas sonoras antológicas; exceção, neste gênero, da direção musical de Keoma (1976) em meio a um paiol de outros, pois muitos queriam fazer cinema com aquela idéia na cabeça glauberiana de uma câmara na mão e apenas alguns surpreenderam.

Cada um é cada um. Nem todos conseguem fazer tudo. Todos podem jogar bola, desenharem ou fazerem rabiscos, escreverem ou dizerem rimas e até mesmo filmarem, depois das facilidades, neste século XXI, com máquinas filmadoras portáteis. No entanto, escrever bem é artigo de luxo, ou fazer poemas, ou filmes, ou pinturas, ou ser um jogador de futebola. Nem mesmo Arthur Miller conseguira escrever outra peça que se equiparasse “a morte...”.

Sem desconsiderar todas as nuanças de “A morte do caixeiro-viajante”, eis uma história (escrita no miolo do século XX) memorialista aos anos pós-crise de 1929. Onde o caixeiro-viajante Willy Loman (marido de Linda, e pai de Happy e Biff), um cara pra toda a obra, luta dentro da própria casa, apertada entre dois grandes prédios. Aquele foi o início das cidades, dos prédios públicos, do urbanismo, nos EUA e em outros países americanos, no século XX, sobretudo após a Segunda Grande Guerra (1939-45). O mais importante dramaturgo norte-americano no século XX, Arthur Miller, escreveu em “A morte...” também sobre a morte das casas e o nascimento dos edifícios altos. A história da cultura urbana começou, ali, a receber nova moldura.



REFERÊNCIA

A morte do caixeiro-viajante / Arthur Miller : tradução de Flávio Rangel. São Paulo : Abril Cultural, 1980.