20080816

Os Guerreiros, os Curandeiros e os Mercadores
(in “Uma teoria do paradoxo”, pp119-20, SC, 1999)


Uma cidade pobre
Reflete
Sobre as fortunas
Da cidade poderosa.
Quer conhecer
Os motivos da força política
De sua vizinha,
Enquanto ela mesma,
Mesquinha, medrosa,
Reduz-se a meia dúzia de mei’águas
Tristes de tudo.

Definha à beira da morte econômica.
E os habitantes,
Desiludidos,
Sós,
Só bebem e fumam,
Fumam o futuro, bebem o passado.

Falta-lhes trabalho. E as fábricas?
Empregam computadores.
A cidade pobre nem ousa saber
De seu parentesco co’a cidade rica.
E a cidade rica,
De olhar fixo à cidade pobre,
Quer lhe aconselhar
Demoradamente.
Desiste, todavia,
Por um motivo simples.

A cidade pobre caída, cabisbaixa,
Sempre carregará um coração mole.
E os moles dedicam-se só, apenas
A fortalecer ainda mais a quem já é forte:
Os guerreiros, os curandeiros,
Os mercadores.

Revolta-se quem não dispõe de espírito,
Espírito guerreiro ou religioso
Ou para o comércio.
Ainda senão, eis mais uma
Pobre serva cheia de inveja
E que não se revolta
Com a tríade (o clã do mercado,
Da cura e da guerra.